MOBILIDADE URBANA E DESIGN DE SERVIÇO

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Desde 2015 eu tenho me dedicado a compreender a maneira como são projetados os serviços nas cidades, em especial aqueles serviços que fazem diferença no dia a dia dos seus usuários. Já participei de alguns fóruns nacionais e internacionais sobre o tema, com o objetivo de entender como o design tem contribuído para a inovação nas cidades. Eu como designer, e usuário de vários desses serviços, sempre me perguntei porque ainda temos uma experiência relativamente negativa na maioria dos serviços que utilizamos, principalmente aqueles que não vem da iniciativa privada. Mesmo sabendo que na época em que vivemos, há tanto conhecimento, cases para nos inspirar e uma série de inovações disponíveis, ainda caminhamos lentamente usando referências isoladas de outras áreas do conhecimento e que mal se conectam com os benefícios que as ciências humanas podem oferecer. Chego a uma conclusão: o problema não são os outros, somos nós designers, que estamos pouco envolvidos nesses projetos. Quem conhece um designer estratégico ou um designer de serviço que está envolvido de verdade em um projeto de mobilidade urbana por exemplo? Dá para contar nos dedos quando os encontramos. Na maioria das vezes, os profissionais envolvidos nessas áreas são especialistas nos temas, com anos de experiência e que possuem formação muitas vezes, no campo de exatas e tecnologia. Precisamos de mais designers estrategistas apoiando projetos de inovação.

E onde estão os maiores desafios de mobilidade no Brasil?

Em 2018 o IBGE calculou que temos uma população de 208 milhões de habitantes e que em 2047, esse número saltará para 233 milhões. Estamos falando de 24% da população vivendo nas capitais brasileiras atualmente, mas a ONU fala que até 2050, 70% da população mundial estará vivendo nas cidades. Esses dados nos mostram que teremos muito o que fazer, e principalmente, garantir que o futuro das soluções de mobilidade, sejam projetadas para as pessoas.

Já temos vários exemplos de serviços que surgiram e que estão gerando valor para os usuários. Só para citar, uber e yellow (agora grin), têm sido os principais expoentes da regulação de novos modais de transporte em várias cidades. Há casos mais recentes como a Buser, um serviço de fretamento coletivo de ônibus que também tem encontrado seu espaço por aqui e que tem enfrentado barreiras para operar.

Em São Paulo há algumas iniciativas mais recentes interessantes para analisar, pois elas prometem uma série de inovações para a mobilidade na cidade.

O primeiro deles é o beepbeep, uma startup de mobilidade e sustentabilidade elétrica, que disponibiliza veículos elétricos com autonomia de até 300km com a bateria totalmente carregada. Os veículos podem ser retirados e devolvidos em estações que ficam concentradas na região sul de SP. Sabemos que a aquisição de veículos elétricos ou híbridos ainda é uma realidade para poucos brasileiros, e esse tipo de solução além de todos os benefícios que sabemos que ela traz para a sociedade, sem dúvida apoiará a criação da cultura para o uso de veículos sustentáveis.

Há um outro ponto interessante, uma tendência crescente onde um grande número de pessoas não desejam mais possuir um veículo próprio, principalmente as gerações mais novas. Então como apoiar o deslocamento desses usuários com uma oferta abrangente de outros modais?

É aqui que entra a Quicko, um serviço de mobilidade urbana que vai integrar ônibus, metrô, trem e bicicleta em São Paulo. Para avaliar qual é o melhor meio de transporte para determinada rota, a ferramenta vai levar em conta fatores como preço e rapidez, além de ter acesso a informações como qual estação de bicicleta compartilhada está disponível e quantas bicicletas podem ser utilizadas. Um serviço integrador de modais muito interessante para os usuários.

Pode parecer contraditório, mas a restrição de tempo é algo vantajoso. A procrastinação faz parte do ser humano e fica ainda mais comum quando podemos ir de aba em aba ou de aplicativo em aplicativo em questão de segundos.

A Uber também está testando em SP a Uber Transit, funcionalidade que neste momento mostra para o usuário o que é mais vantajoso para ele. Solicitar um carro ou usar o transporte público, comparando inclusive, os preços das opções. Em algumas cidades nos EUA, já é possível pagar o transporte público pelo App da Uber, mostrando uma tendência de onde a Uber quer chegar.

Falando em atenção, todas as pessoas envolvidas pessoas precisam estar completamente dedicadas ao desafio. Idealmente, não entram computadores ou celulares e ninguém está autorizado a escapar para outros compromissos.

O campo de atuação para designers estratégicos, UX designers e designers de serviço, é bem amplo e farto. Que bom que nós, designers, estamos conseguindo ganhar espaço e vendo iniciativas sendo implantadas sob uma perspectiva que traz valor real para os usuários e para a sociedade. O futuro da mobilidade de SP depende de atitudes integradoras de agentes interessados em realizar a mudança, que seja multidisciplinar e colaborativa entre áreas de conhecimento (engenharia, tecnologia, design entre outras), e o mais importante, uma atitude orientada para a velocidade da implantação. Se estivéssemos esperando a iniciativa pública, os patinetes nunca estariam nas ruas.